27 dezembro, 2009

A fala da linguagem culta nas escolas

É de conhecimento geral, que o “bem falar” cumpridor dos requisitos impostos pelo padrão culto da língua portuguesa, não está devidamente difundido entre a sociedade brasileira. A grande massa das pessoas, se quer conhece esses requisitos. Mas por quê? A culpa é de quem? Quem, ou o quê, deveria ser responsável pela propagação da linguagem culta na sociedade?
O hábito de falar bem, falar certo, origina-se em uma pessoa, geralmente, em sua formação, desde a infância até um nível elevado da juventude. Responsável por isso é o ambiente em que ela vive, o nível escolar dos pais, a presença da leitura, da arte e da socialização com pessoas cultas. Somos reflexo daquilo que aprendemos, somos formados pelo conhecimento que adquirimos e pelos costumes que nossos pais e o meio em que vivemos nos passaram.
Costumamos falar aquilo o que ouvimos. Se, ao acaso, uma pessoa fosse criada longe do contato com a leitura e dos outros fatores responsáveis por esse “bem falar”, e além disso, suas amizades fossem moleques de rua, pivetes, marginais que vivessem às custas de práticas ilegais e criminosas, certamente ela iria ter o habito da linguagem suja dos becos das ruas, pois foi lá que se formou e aprendeu tudo o que sabe.
Observa-se que o ambiente em que se vive é o grande responsável pelo que iremos ser. Isso não significa que se uma segunda pessoa morar em um local periférico circundado por pessoas de má índole, ela será um marginal das ruas. Esclareço que para alguém tornar-se um “sujeito errado”, tem que adentrar nesse meio, cometer as mesmas práticas erradas que comete esse grupo. Mas se alguém vive em um local que apresenta esta realidade, contudo, Atem o habito de ler freqüentemente um livro ou um jornal, assiste programas televisivos que apresentam temas importantes a serem discutidos na sociedade, admira a cultura e suas artes; esse alguém terá muito mais chance de se tornar uma pessoa correta.
Então o “bem falar” é exclusivo apenas daqueles que possuem a oportunidade de um maior contato com a cultura, com o habito da leitura, com pessoas cultas e com um ambiente favorável ao conhecimento e a aprendizagem sofisticada? Sim, e tudo isso pode ser resumido à apenas ao ambiente favorável ao conhecimento e a aprendizagem sofisticada.
Mas a relevante pergunta é: Se a escola é, de fato, um local que reproduz esse ambiente favorável ao conhecimento e a aprendizagem, então por qual razão, a sociedade onde a grande parcela já foi um dia estudante, ignora a linguagem culta?
Simples. A própria escola não investe no uso dessa linguagem, e não funciona como um eficiente difusor da linguagem do padrão culto. Como dito anteriormente, o “bem falar” origina-se na formação da pessoa, que vai desde a infância até as proximidades da fase adulta, e é nesse exato período que a escola tem uma eminente presença na vida de uma pessoa. Já somos bombardeados pela fala incorreta por intermédio dos programas que assistimos na televisão, e o pior, é que nem notamos de tão acostumados ao erro que estamos sujeitos. Vivemos a maior parte de nossa vida fora das escolas, em nossa juventude dedicamos cerca de quatro horas a ela. E essas poucas horas que deveriam ser usadas como antídoto para o veneno do erro da fala que estamos acostumados, não é devidamente usado. Se a escola não nos ensina a falar direito, quem vai nos ensinar?
Observo que a escola não investe na pratica do padrão culto da língua portuguesa por via da fala, pois diversas vezes tive a oportunidade de presenciar os próprios professores e a diretoria usarem gírias e palavrões em suas falas. Confesso que tenho um professor, que apresenta erros gramaticais e de concordância na formulação de seus exercícios. Os professores de português, muitas vezes nem se quer incomodam-se com a maneira incorreta que seus alunos falam, bastam esses alunos escreverem bons textos sem muitos erros, e está tudo bem. Mas pergunto: Você já viu uma pessoa falar exatamente do mesmo modo que escreve?
Não? Nem eu! Então como falar seguindo os padrões cultos da língua, se nem os nossos educadores falam. Para ser professor, não basta ter o conhecimento apenas de sua respectiva matéria, pois nessa profissão existe a necessidade do uso da fala. E já que essa fala tem o objetivo de ser dirigida a ouvintes, ouvintes esses que ainda estão em estado de aprendizagem e que seria benéfico possuírem um maior conhecimento da linguagem; não seria lógico e sensato que fosse uma fala de qualidade, uma fala culta que atendesse as exigências impostas pela linguagem.
Deparamos-nos com mais um problema que praticamente não é percebido em escola alguma. E é um problema de difícil resolução, pois falar baseado na linguagem culta perto de outras pessoas que não a falam, pode tornar-se causa de risos e constrangimento, além do fato de ser considerado estranho e diferente no meio dessas pessoas. Afirmo isso pois já presenciei situação semelhante a essa.
Então o que fazer? Só nos resta esperar pela reflexão de nossos educadores a respeito deste assunto, se não, a linguagem culta vai ser única e exclusiva da escrita, já que falá-la, tornou-se motivo de constrangimento. Que nossos educadores aprendam as propriedades da linguagem culta e falem-na, pois os educadores são os responsáveis pela perpetuação da educação, e falar bem, além de ser um fala de qualidade e graciosa, é o verdadeiro sinônimo de uma boa educação.

Douglas Castilho - Aluno 1001.

2 comentários:

**Escola Dona Helena Guilhon** disse...

Muito interessante e pertinente suas colocações.
Houve um tempo em que estava também bastante preocupado com isso. Até ouvir um professor de língua portuguesa que assim se expressou: "falar certo é falar de acordo com a linguagem dos nossos ouvintes. Se estás em meio erudito, a linguagem culta é a mais apropriada, se estás entre os colegas, use a coloquial, se estás nas "baixadas" ( onde nasci) use gírias, para não ser um estranho no ninho.
Apesar do assunto ser um pouco polêmico, é procedente e reflete seu amadurecimento nas organizações de idéias.
A polêmica está em saber qual linguagem devemos considerar realmente nossa língua? conheço um professor que fala a lingua parauara(Pará) quando vai a sua terra de origem (no interior) e a norma culta quando na cidade.Às vezes ele "troca as bolas" e todos acham graça da situação.
A questão é que a "linguagem oficial" que tentamos fincar na cabeça de nossos alunos é em muito uma herança dos nossos colonizadores portugueses, creio que devemos sempre primar por ser bem entendidos quando nos comunicarmos por isso devemos conhecer todos os tipos de linguagem.

Prof. Eric

Adinalzir disse...

O texto do Douglas Castilho é bem polêmico, com certeza. Mas como diz o Prof. Eric, devemos sempre estar preparados para as devidas situações. Para cada tipo de público deve-se usar uma linguagem.

Dados da Escola

Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio do Estado do Pará, localizada em Belém, no Cj. Satélite WE 5, s/n, fone: 3248-0743, temos 2200 alunos, divididos em 3 turnos, e em média 80 professores. Email do blog: donahelenaguilhon@gmail.com / Direção: Edson Motta/ Vice-Direção: Manhã- Eliana Ferreira , Tarde/ Noite- Alice Carvalho.