Desde o descobrimento até os dias de hoje, o Brasil tem sofrido mudanças no seu processo educacional que, ora serve às classes dominantes, ora é usado como meio eleitoreiro e, quase sempre, não serve às reais necessidades do povo brasileiro.
Fazendo uma retrospectiva do processo educacional brasileiro, podemos, nós educadores, observar a corrente pedagógica da escola tradicional que tinha no professor a figura do sabe-tudo, o transmissor dos conteúdos aos alunos, e estes, seres passivos que deveriam assimilar os conteúdos, pelo mestre, repassados. Obviamente, assim se portaram, pois os objetivos educacionais obedeciam a uma seqüência lógica dos conteúdos, não havendo explicitação dos mesmos, uma vez que, por si só, diziam tudo, haja vista a lei em que se baseavam.
Os conteúdos programáticos não eram discutidos por todos, pois o que mais interessava era a quantidade de conhecimentos que eram selecionados a partir da cultura universal acumulada e organizados em disciplinas. A metodologia, como sempre, era centrada na figura do professor que usava aulas expositivas dogmáticas, exercícios de fixação (repetição, leitura, cópias).
Como avaliar este processo educacional? Simples. Eram valorizados apenas os aspectos cognitivos, com ênfase na memorização. Avaliação feita para o professor e não para medir a capacidade crítica-reflexiva do aluno. Desta feita, tínhamos, no final, um aluno que dominava a cultura universal transmitida pela escola. E esta era autoritária! As camadas mais privilegiadas eram as favorecidas, em detrimento da maioria da população pobre e miserável. Sua organização era cimentada em normas e disciplinas rígidas, havendo a hierarquização das funções nela exercida.
Como já dito anteriormente, a população, através de professores, psicólogos e demais profissionais da educação, clama por mudanças que venham satisfazer o contexto da sociedade existente. Neste ínterim, surge a escola Nova, ou tendência escolanovista, que se reveste de uma máscara ideológica para mudar a já calejada tradicional. Vê-se, então, o professor como o facilitador da aprendizagem e orientador do processo, e o aluno como o ser ativo, o “centro do processo ensino-aprendizagem”. Os objetivos educacionais enfatizam a auto-realização do aluno, já que obedeciam ao desenvolvimento psicológico do mesmo. Se a preocupação era com o desenvolvimento psicológico, os conteúdos programáticos passaram a ser selecionados conforme os interesses dos alunos, tendo a metodologia centrada no próprio aluno, tais como: trabalho em grupo/pesquisa; jogos/criativos e experiências diversas. A avaliação correspondia aos objetivos educacionais, pois o que interessava era valorização dos aspectos afetivos (atitudes) com ênfase na auto-avaliação.
Aparentemente, tínhamos o aluno saído da escola como um ser criativo que aprendeu a aprender, um ser participativo e, portanto, confiante em si mesmo. A escola é ,então, proclamada para todos, não havendo classe social discriminada. É a “democracia” implantada, tendo em sua organização o afrouxamento das “velhas” normas rígidas, e as funções, desta feita, confundem-se, ou seja, de todas as reivindicações para uma mudança geral na educação, apenas parte dela foi atendida pelos poderes legislativo e executivo, pois, a tal “democracia” era apenas fachada, e tudo não passou de uma grande “venda ideológica” para uma população que ansiava por mudanças, não só didático-pedagógicas, mas também, sócio-igualitária. Uma sociedade mais justa com os mesmos direitos a todos. E, mais uma vez, a educação é usada pelo poder público sem que venha satisfazer as reais necessidades da população.
Com a revolução industrial e o crescimento do capital estrangeiro no Brasil, a educação sente a necessidade de satisfazer esse mercado crescente com mão-de-obra especializada, mantendo, por conseguinte, o “crescimento industrial” brasileiro. É dada ênfase ao ensino técnico. Há uma proliferação de escolas técnicas por todo o país, no desejo de atender à demanda das grandes indústrias.
O que não podemos perder de vista é que, ao mesmo tempo em que o governo investe no ensino técnico, está também desafogando a grande demanda ao ingresso nas universidades, que, diga-se historicamente, época do golpe militar de 64, em que as forças universitárias eram fortes. Desta feita, diminuindo o contingente universitário e aumentando o contingente técnico, estaria ganhando terreno no campo político. É então dada a largada a uma nova tendência pedagógica, concentrada no “aprender a fazer”. Claro! Só teria sucesso aquele que fosse eficiente e capaz.
Temos então uma organização escolar com o molde empresarial, em que visualiza-se, claramente, a divisão de quem planeja e de quem executa. É praticamente uma sociedade sem escola, pois usa o ensino não formal, o ensino à distância, a tele-educação e seus objetivos educacionais são elaborados a partir das operacionalizações e categorizados pela classificação: educacional e instrucional. Os verbos usados são sempre precisos no comportamento operante do fazer bem feito, com a eficiência e eficácia, com a produtividade do aluno servindo com como formas de avaliação.
Os conteúdos programáticos correspondem às especificações técnicas e aos objetivos previstos, poder-se-ia dizer: qualquer conteúdo, desde que satisfizesse o curso proposto.
O professor tradicional, ou mesmo o facilitador da aprendizagem, anteriormente enfatizado aqui, dá lugar ao professor-técnico, aquele que seleciona, organiza e aplica um conjunto de meios que garantam a eficiência e a eficácia do ensino.
O aluno? Apenas um elemento para quem todo esse material é preparado, sem que possa participar do seu processo seletivo. Quanto à metodologia, é dada ênfase aos grandes meios: recursos audiovisuais, instruções programadas, tecnológicas, etc. Assim sendo, temos o aluno
completo, o aluno eficiente, produtivo e que lida “cientificamente com os problemas da real sociedade brasileira” (grifo meu).
Faz-se necessário ressaltar que as escolas técnicas não foram um mal por si só, pode-se dizer: um mal necessário, haja vista a necessidade de mão-de-obra especializada. No entanto, o Brasil sentiu-se na obrigação de importar professores-técnicos, pois, aqui, não havia técnicos que suprissem essa demanda.
Hoje, o Brasil já possui uma tendência pedagógica mais avançada conhecida por Escola Dialética, Social e outras denominação mais socialistas, em que, diz-se que o relacionamento professor-aluno mudou muito. O primeiro é aquele que direciona e conduz o processo ensino-aprendizagem que, para tanto, necessita ser uma autoridade competente, pois é um educador. O segundo, uma pessoa concreta, objetiva, que determina e é determinada pelo sócio/político/econômico/individual, pela história da qual ele mesmo é construtor. Uma escola que tem seus objetivos educacionais definidos a partir das necessidades concretas do contexto histórico-social no qual se encontram os sujeitos.
Seus conteúdos programáticos selecionados a partir das culturas dominantes (ciência, filosofia, arte, política), sendo desenvolvida uma metodologia que faz articulação entre professor e aluno utilizando-se de todos os meios que possibilitam a apreensão crítica dos conteúdos.
A superação do estágio do senso comum para consciência crítica é a sistematização dos conteúdos, ou seja, o aluno é avaliado para que sejam detectadas sua mudança de atitude e sua criticidade sobre os conhecimentos adquiridos, porque ele sairá da escola como um dominador dos conteúdos e será capaz de operar mudanças na realidade da qual ele faz parte. Exige-se que esta escola seja de boa qualidade e que sirva para todas as camadas sociais da população como uma organização plantada nos meios que façam com que a escola funcione bem nos seus múltiplos aspectos.
As tendências ou escolas pedagógicas, ao longo dos anos, são a expressão dos anseios da população que luta pela melhoria da qualidade do ensino e uma escola que sirva a todos sem que haja discriminadores e discriminados.
Poder-se-ia dizer que as mudanças foram poucas. Fazendo-se uma breve comparação entre estas correntes filosóficas será notado que os componentes curriculares a cada época mudaram sua postura, mesmo havendo um cunho político-ideológico no estado sobre as leis que regem o sistema educacional brasileiro.
Se hoje temos mais consciência da necessidade desta mudança é porque vimos acompanhando as poucas, mas necessárias, mudanças que ocorreram e que precisam acompanhar a dinâmica da sociedade brasileira e do mundo. O conhecimento não é estanque, ele é dinâmico porque o que hoje é verdade absoluta, amanhã pode se tornar obsoleto. É a ciência em busca de novas verdades, são os educadores buscando uma melhor didática que auxilie no desenvolvimento no processo ensino-aprendizagem.
Desde Commenius, considerado o “Pai da Didática”, vimos a ciência avançar no campo educacional. O que não podemos deixar passar sob os olhos atentos é a verdade educacional que ora nos é imposta com seus dirigentes de gabinete planejando uma educação fora das realidades brasileiras, ou seja, um planejamento feito em uma região totalmente diferente das outras e deve, segundo eles, ser aplicado em todas as demais. A leitura da realidade regional deve ser levada em conta, e do planejamento deve-se tirar as linhas gerais adaptando-os aos quatro cantos regionais brasileiro.
Humberto Paiva Brito é Graduado em Pedagogia pela UEPa (habilitação em Administração Escolar).
Especialista em Metodologia do Ensino da Educação Especial pela UEPa
Especialista em Gestão Escolar pela UNAMA.
È professor da UVA
É técnico pedagógico de Escola Pública
Um comentário:
EXCELENTEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
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